domingo, 11 de janeiro de 2015

"Eu sou Amor"



Quem é de direita é “Eu sou Charlie” e quem é de esquerda é “Eu não sou Charlie”? Isso é um reducionismo absoluto. Não há lados para se defender nesta questão, mas há sim críticas oportunas a se fazer. Está na hora de dizer algumas coisas, que incomodam, que ampliam o pensamento, a consciência e a ação do outro. De combater o que há muitos anos vem sendo espalhado pelo mundo, pela direita, pelos meios de comunicação, por lideres religiosos extremistas, esquerdistas sem base, por pessoas que desconhecem a cultura do outro e não a respeitam. Todos nós, de uma maneira geral, aqui do Ocidente, nos achamos superiores aos povos do Oriente, principalmente árabes e muçulmanos. Porque eles, a nosso ver, simplesmente são primitivos, menos avançados tecnologicamente e menos racionais. 

Essa nossa visão nos afasta demais deles, seres humanos, tais como nós. Eles tem suas contradições, mesmo tendo uma religião que abarca toda a sua cultura. Eles tem visões diferentes de mundo. Eles não são um povo homogêneo em termos religiosos, políticos e culturais. E, por isso mesmo, existem os extremismos e extremistas. E isso não é tão diferente daqui do Ocidente. Aqui, os nossos extremismos e extremistas são chamados de fascistas, racistas, imperialistas, terroristas de direita e de esquerda, que espalham e propagandeiam aos quatros ventos a xenofobia, o preconceito, a discriminação e o descaso aos povos oriundos da África, do Oriente e dos países pobres, subdesenvolvidos, de terceiro e quarto mundo. Só essa última expressão já exemplifica bem este nosso complexo de superioridade. Com estas lentes de aumento do nosso poder de fogo e de negociação política e econômica nós queremos mesmo é conquistar o mundo. Daí vem o termo “país imperialista”, o imperialismo cultural, político e econômico.

Não podemos nos achar melhores que o Oriente de jeito nenhum, porque simplesmente não somos. Talvez sejamos até piores! Com tantas guerras que mataram milhões de civis inocentes apenas por dinheiro e ganância, motivadas, egoisticamente, pelo desejo de ser a primeira potência mundial, não temos um bom currículo humanitário para nos orgulharmos. Ocidente e Oriente são uma diversidade de povos, com culturas totalmente diversas, ambas muito interessantes, e que contribuem sim, todas elas, para o avanço da humanidade. Não há uma visão de mundo melhor ou pior. O que falta realmente é o respeito pelo outro, pelas culturas religiosas em geral, especialmente o Islã, os judeus e arábes. O extremismo do Oriente tem suas razões, não apenas religiosas, mas também de libertação política e econômica de toda uma cultura do domínio dos países imperialistas, que invadiram sucessivas vezes suas terras e expulsaram milhões de pessoas de sua região original. O estrago que o Ocidente provocou no mundo do outro foi tão grande que as consequências destes atos bárbaros de violência nos respingam até hoje.

Há caminhos para a paz. Mas enquanto não pararmos de viver em função dos outros, pensando apenas na competição, na corrida pela chegada ao pódio, pela acumulação de capital, do ter em detrimento do ser, não teremos solução viável para este tipo de conflito. O que falta ao ser humano mesmo é enxergar além do óbvio, do racional, daquilo que ele vê com seus olhos. Se conseguissemos nos olhar no espelho e ver além das rugas, pensar e refletir a nossa História, os nossos sentimentos e desejos mais profundos e originais, saberíamos que todo mundo tem todo o direito de ser e expressar quem é, livre de rótulos e padronizações, e assim poderíamos aprender que o mais importante é o respeito ao outro, o que não limita o amor, e sim amplia e acolhe toda a nossa diversidade.

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