segunda-feira, 10 de outubro de 2011

História e Tropicalismo



Getúlio Mac Cord, autor de "Tropicália, Um Caldeirão Cultural", é radialista, pesquisador de MPB e engenheiro. Nessa entrevista ele conta um pouquinho da história do movimento tropicalista. Seu livro já lançado no Rio, São Paulo, BH, Recife e no Sul.


1 - Quais foram as inovações estéticas da Tropicália?

As inovações na música foram no sentido de abrir espaço para as guitarras elétricas, de incorporar as sonoridades externas, como o som dos Beatles e a vanguarda sonora de experimentações da área erudita. Os maestros Júlio Medaglia, Rogério Duprat e outros estavam antenados nas vanguardas atonais, dodecafônicas e as experimentais de John Cage, somando tudo isso e aplicando na MPB. Nas artes plásticas, a liberdade era a saída da parede dos quadros. As obras eram participativas, como o ambiente “Tropicália”, de Hélio Oiticica, e também seus parangolés, que eram espécies de 'roupas´ que só se transformavam em arte ao serem vestidas pelo público. A Tropicália também estava no teatro e no cinema. Enquanto Caetano fazia a música “Tropicália”, ia para o cinema e Glauber, com seu “Terra em Transe” trabalhava vários elementos comuns. Eles iam para o teatro e Zé Celso fazia o “Rei da Vela” e depois “Roda Viva”, com o mesmo espírito tropicalista. Era uma interação das artes, tudo confluindo para um Brasil moderno, de vanguarda, da experimentação.

2 - Quais foram os elementos culturais que mais influenciaram a Tropicália e seus artistas?

O modernismo e a antropofagia cultural é a base de tudo. Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral, grande guia.

3 - Porque a Tropicália foi tão criticada na época?

Naquele momento havia a chamada Guerra Fria entre os Estados Unidos (EUA) e a União Soviética (URSS). O que os grandes titãs faziam era tentar influenciar todo o mundo para o seu lado político, incluindo até a cultura. Então, o pessoal do CPC da Une – Centro Popular de Cultura, ficava com aquele estigma de engajamento e vaiava canções como “Sabiá”, obra prima de Chico e Tom, em favor de “Prá não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré. A disputa se estendia a toda a turma da Tropicália, que era vista como algo diferente. O governo e o regime militar também reagiu aos tropicalistas. Eles não entenderam nada e botaram prá correr aqueles cabeludos, Caetano e Gil, que viviam vestindo umas roupas "coloridas e espalhafatosas". Na época quem não estivesse "engajado" na falsa "moral e bons costumes" vigentes, estava fora do contexto. O governo ditava: Brasil ame-o ou deixe-o.

4 - Porque muitos artistas tropicalistas não ficaram populares?

Trato em meu livro também da questão mercadológica. A Tropicália é por essência experimental, então Macalé, Sérgio Sampaio, Luiz Melodia, Walter Franco e tantos outros eram taxados de malditos. Isso é mera forma de reducionismo! Graças a esses gênios experimentais é que a MPB é a mais rica do mundo.



Um comentário:

Getúlio Mac Cord disse...

Sou suspeito. Fico sanguíneo com o assunto. Muito bem escrito, Drica!!